No dia 5 de setembro de 1850, D. Pedro II (1825-1891) assinou a Lei número 582 que criou a Província do Amazonas. Em 2007, 157 anos e milhares de leis depois, a Lei Federal 11.621 instituiu que esse seria o dia de celebração da Amazônia e também o dia da mulher indígena. Essas leis pouco fizeram para preservar a maior floresta tropical do mundo, mas talvez as comemorações do Dia da Amazônia permitam que se aprenda mais sobre essa região ainda tão desconhecida.

Antes da chegada dos europeus, cerca de 3.5 milhões de indígenas viviam no Brasil. Atraídos por riquezas que imaginavam encontrar, portugueses, espanhóis, franceses, ingleses e holandeses começaram a invadir o território ainda no século XVI. Como não era simples achar ouro e, menos ainda, o mítico Eldorado, aos poucos os europeus foram se retirando da região de difícil acesso, restando apenas os portugueses, principalmente os religiosos empenhados em catequizar os indígenas.

Em 1621, a coroa portuguesa criou o Estado do Maranhão e Grão-Pará, que respondia diretamente a Lisboa e que abrangia o Ceará, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas. Nesse período, os indígenas que resistiram às doenças e aos ataques dos portugueses eram muitas vezes forçados a viver em aldeias construídas pelos missionários jesuítas ou eram escravizados pelos colonos e os que podiam, escapavam para dentro das florestas.

A economia girava em torno da extração de tudo que pudesse gerar dinheiro na floresta como cravo, canela, castanhas, cacau, tinturas, ervas medicinais, peles de animais, gordura de peixe, animais vivos e madeiras valiosas. Esses produtos que eram exportados para a Europa, sem gerar nenhuma riqueza para os povos originários.

Em 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil por ordem do Marquês de Pombal (1699-1782) e substituídos por mais colonos portugueses que continuavam escravizando os indígenas, apesar de um decreto de 1755, assinado pelo mesmo marquês, ter dado a eles os mesmos direitos de todos os cidadãos livres. As aldeias criadas por jesuítas passaram a ser vilas, e fortes foram construídos para garantir aos portugueses o domínio da região. Também nessa época (1755) foi criada a Capitania de São José do Rio Negro, onde hoje é o Estado do Amazonas e parte de Roraima. A ideia era dividir o comando para controlar melhor o território.

Prospecto da Vila de Barcelos, antigamente Aldeia de Mariuá, criada capital da capitania de S. José do Rio Negro, pelo Ilmº e Exmº Sr. Francisco Xavier de Mendonça Furtado, por provisão de 6 de maio de 1758...

Em 1783, Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815) iniciou sua expedição pelo Brasil, que ficou conhecida como Viagem Filosófica. São de seus desenhistas, Joaquim José Codina (17??-1790) e José Joaquim Freire (1760-1847), a maioria das imagens da Amazônia disponíveis aqui no portal. Além de 554 ilustrações botânicas de espécies conhecidas e desconhecidas dos europeus, eles retrataram edificações, embarcações, várias vilas (acima) nas margens dos rios que percorreram com a ajuda dos indígenas e às vezes apenas a natureza (abaixo), ainda predominante. A missão de Alexandre Rodrigues Ferreira era reportar à coroa portuguesa o maior número de informações possíveis sobre o modo de vida, a geografia, a fauna e a flora do norte do Brasil, mas a maioria das observações e ilustrações que apresentou buscavam identificar e encaixar traços da cultura europeia naquele universo novo e desconhecido.

Vista do Rio Vaupés, o qual desagoa no Rio Negro

No século seguinte, os naturalistas alemães Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e Johann Baptist von Spix (1781-1826) também empreenderam uma viagem pela Amazônia, durante a estadia deles no Brasil de 1817 a 1820. Em gravura de Martius (abaixo), é possível ver dois homens brancos desenhando ou anotando enquanto observam um grupo de indígenas formar uma roda em volta de uma imensa árvore, nascida antes de Cristo, segundo a descrição que o alemão fez da obra (As árvores que nasceram antes de Cristo na floresta às margens do Rio Amazonas). A natureza impressionou muito os dois cientistas que também tiveram contato com algumas etnias da região, como os mundurucus, que ainda permanecem no Pará, e os mawes, os inventores da cultura do guaraná e que ainda vivem entre os Estados do Amazonas e Pará.

Arbores ante Christum natum enatae in silva juxta fluvium Amazonum

Atraído pelos relatos desses viajantes e do naturalista Alexander von Humboldt (1769-1859), seu conterrâneo, o Príncipe da Prússia, Adalbert Heinrich Wilhelm (1811-1873), também viajou pela Amazônia, em 1842, durante seis semanas, quando percorreu a região do Xingu em canoas e teve contato com alguns indígenas jurunas. Na gravura abaixo, de sua autoria, um indígena, recostado em uma cruz, admira o pôr do sol.

Javaquára am Xingú den 6" Dec 1842

Essa gravura dialoga com a pintura (abaixo) do francês François-Auguste Biard (1799-1882) que, após rápida passagem pela Amazônia, pintou os "adoradores do sol", uma obra que mostra bem o olhar romântico e distante da realidade que os europeus tinham sobre os indígenas. Todos os viajantes, cientistas ou artistas, tiveram a ajuda dos indígenas para conseguir sobreviver e se deslocar na floresta. Alguns se aproximaram de aldeias locais e travaram contato com os indígenas, mas ao que tudo indica aprenderam pouco com eles. O manejo da floresta continua sendo um mistério para os forasteiros, mesmo do Brasil, que se aventuram por lá e a destruição ainda é a regra.

Índios da Amazônia adorando o Deus-Sol (atribuído)