Instalados no Rio de Janeiro no início do século XIX, os telégrafos foram os primeiros equipamentos a permitir a comunicação rápida à distância e eram utilizados para avisar a população sobre a chegada de navios. Antes da introdução da eletricidade no Brasil, em 1852, eram utilizados os chamados telégrafos óticos, que transmitiam visualmente as informações, por meio de bandeiras coloridas e sinais. Como o do Morro do Castelo, representado pelo jovem viajante austríaco Franz Joseph Frühbeck (1795-?) ainda em 1817.

Telegraph

"O Morro do Castelo, de onde não se avistavam as embarcações fora da barra, anunciava ao público, por meio de sinais de bandeiras, as notícias que recebia da Fortaleza de Santa Cruz e do Morro da Babilônia. Eram informações sobre os tipos e as nações das embarcações avistadas. Do Morro do Castelo se transmitiam as notícias para a Quinta da Boa Vista, onde estava o Palácio Imperial, no bairro de São Cristóvão", explicaram os pesquisadores Mauro Costa da Silva e Ildeu de Castro Moreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no artigo "Introdução da telegrafia elétrica no Brasil (1852-1870)", publicado na Revista Brasileira de História da Ciência (julho 2007).

Esses telégrafos óticos eram eficazes na comunicação básica entre o porto, o povo e a corte, em um tempo em que cartas chegavam por navio ou a cavalo. Bahia, Pernambuco, Ceará, Maranhão e Santa Catarina também tiveram seus telégrafos óticos para comunicação entre fortalezas. Não à toa, a primeira aplicação prática da eletricidade na capital do Império foi justamente a inauguração da linha telegráfica entre o Palácio Imperial da Quinta da Boa Vista e o Quartel Central no Campo da Aclamação. A iluminação pública só teria seu primeiro teste cinco anos depois, no baile em homenagem a D. Pedro II, no prédio da Academia Real Militar.

Os telégrafos elétricos expandiram a possibilidade de comunicação entre os diferentes pontos do litoral do Rio e as estações óticas já instaladas, como a do Morro do Castelo, foram aproveitadas e passaram a operar com os dois sistemas. Na gravura do pintor holandês Pieter Godfried Bertichen (1796 -1856), de 1856, é possível ver esse mesmo telégrafo já mais equipado.

Telegrapho morro do Castello

Ainda segundo Silva e Moreira, "os primeiros ensaios para a introdução do telégrafo elétrico no Brasil datam de 1851, e contaram com o incentivo do Ministro da Justiça, Eusébio de Queiroz Coutinho Mattoso Câmara (1812-1868) (...) Ao que parece, o Ministro da Justiça pretendia utilizar o telégrafo elétrico como um instrumento para ajudar no cumprimento da lei de sua autoria, conhecida como lei Eusébio de Queiroz, de 1850, que proibia o tráfico de escravos no Brasil a partir da sua publicação". Essa lei foi ignorada por comerciantes de pessoas trazidas da África com o apoio do governo brasileiro, que não queria enfrentar os interesses econômicos dos proprietários de terras e de escravizados. "A telegrafia elétrica surge no Brasil dentro deste contexto: motivada real ou supostamente para servir como instrumento de combate ao tráfico negreiro. Embora esse combate não tenha se efetivado, o telégrafo poderia ter contribuído na comunicação rápida entre as fortalezas e a polícia, quanto ao aviso de chegada de navios não identificados e a ação coercitiva da polícia", complementam os pesquisadores.

As muitas dificuldades técnicas também não ajudaram para que a aspiração do Ministro da Justiça fosse cumprida e durante algum tempo a telegrafia brasileira não se desenvolveu como esperado. Essa nova tecnologia só se expandiu rapidamente por causa das necessidades impostas pela Guerra do Paraguai (1864-1870). "Mais uma vez repetia-se no Brasil um fenômeno observado em vários outros países: a construção das redes telegráficas sendo motivada ou impulsionada por conflitos militares. Talvez tenha sido esse o fator de maior promoção das linhas telegráficas terrestres em todo o mundo, no que se refere à rapidez para se construir as linhas. A necessidade de rápida comunicação entre o front e o centro das decisões militares conseguia superar barreiras às vezes de anos, que impediam o estabelecimento da comunicação", escreveram os pesquisadores.

Curioso observar que o artista italiano Edoardo de Martino (1838-1912), nomeado por D. Pedro II como pintor oficial da Guerra do Paraguai e que retratou da linha de frente diversas cenas de batalha, tenha registrado em um desenho a chegada de fios elétricos na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Arrivo del filo Elettrico In Copacabana