A variedade de frutas em imagens da Brasiliana Iconográfica mostra o quanto as diferentes sociedades indígenas da América interagiram antes da chegada dos colonizadores e também como esses últimos foram rápidos ao introduzir no território brasileiro diversas espécies exóticas. Em um estudo sobre a flora comestível do Brasil entre os séculos XVI e XVIII, pesquisadores recorreram a citações em textos de 18 autores que estiveram no país nesse período e concluíram: "Das plantas identificadas, 55% são nativas das Américas, incluindo as do território brasileiro e de outros países americanos, 8% são endêmicas e só ocorriam no Brasil, 37% são exóticas das Américas e duas plantas não tiveram sua origem definida" (in. "As plantas comestíveis no Brasil dos séculos XVI e XVII segundo relatos de época", de Bernardo Tomchinsky e Lin Chau Ming, revista Rodriguésia 70, 2019).

[Anás, cura para as moléstias]

Entre os autores pesquisados, está o frade francês André Thevet (1502-1590), que esteve no Rio de Janeiro entre 1555 e 1556, e cita em sua obra Singularidades da França Antártica (1557) 17 espécies comestíveis, entre elas frutas bastante conhecidas como abacaxi (acima), jenipapo, caju (abaixo), as três nativas do Brasil, mas também a banana, que foi trazida pelos portugueses ou por comunidades indígenas da América, vindas do Sudeste Asiático pelo Oceano Pacífico.

[Colheita de cajus]

O estudo cita também referências a laranjas, limões, figos e uvas, todas originárias da Ásia, em autores como o jesuíta Manoel da Nóbrega (1517-1570), que veio ao Brasil em 1549, e esteve em todo o litoral brasileiro, de Pernambuco a São Vicente. Nosso primeiro cronista, Pero Vaz de Caminha (1450-1500), relata o consumo de três plantas alimentícias pelas populações indígenas, entre elas só uma fruta, o jenipapo, junto com a mandioca, sempre onipresente, e os palmitos.

[Genipa americana, Linn.]

O jenipapo acima é um dos desenhos de José Joaquim Freire (1760-1847) que, com o também desenhista Joaquim José Codina (?-1790), integrou a expedição conhecida como Viagem Filosófica, que percorreu a região amazônica no final do século XVIII, liderada por Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815). Os dois registraram em aquarelas que podem ser vistas aqui neste portal mais de 500 itens da flora dessa região, nem todos nativos.

[Persea gratissima, Linn.]

Além do cacau, também a graviola e o abacate (acima) figuram entre as frutas originárias da América Central que chegaram aqui antes dos colonizadores, transferidas entre as sociedades indígenas. "Uma das mais significativas contribuições dos indígenas das Américas para a humanidade foram as domesticações de plantas tecnicamente selvagens, as quais hoje são consumidas por todo o planeta, como o abacaxi, abacate, abóbora, amendoim, batata, caju, feijão, mamão, mandioca, maracujá, milho, pimenta-vermelha, tabaco e tomate, as quais foram domesticadas antes da chegada dos europeus", afirmam os pesquisadores Fabiane Vasconcelos Corrêa e José Otávio Magno Pires, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, em seu artigo "Uma breve revisão da história, dos desafios e da resiliência da economia indígena na Amazônia" (Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, XX Enanpur, Belém, 2023).

[Psidium]

A goiaba (acima) é originária do Brasil e viajou por toda a América tropical pelas mãos de seus habitantes bem antes da colonização. Outras frutas brasileiras, como a andiroba e a copaíba, que fornecem pelo fruto ou pelo tronco óleos que os portugueses aprenderam a usar com os indígenas, e o cajá, o guaraná, a mangaba, o araticum e o maracujá foram retratadas pelos desenhistas, que também encontraram na Amazônia frutas asiáticas como o figo, o jambo e o tamarindo (abaixo), este último originário da África, mas também muito cultivado na Índia, dois lugares frequentados pelos portugueses antes da colonização do Brasil.

[Jambosa e Tamarindus]