As chamadas drogas do sertão eram especiarias extraídas da região Amazônica que tinham diferentes usos, como remédio, tempero, corante, óleo e selador. A maioria delas se tornou conhecida pelos colonizadores através do contato com os povos originários, que já as utilizavam, e outras chamaram a atenção dos europeus pela semelhança com produtos que conheciam, encontrados antes na Ásia ou no Mediterrâneo.
O interesse pela extração e comércio das drogas do sertão pelos portugueses veio tanto da perda do poder que tinham nos portos da Ásia, como pela necessidade de ampliar a colonização no interior da Amazônia e as fronteiras que disputavam ali com os espanhóis. As drogas do sertão se tornaram mercadorias valiosas e muitas são exportadas até hoje.
Do ponto de vista econômico, o cacau (acima) foi a especiaria mais lucrativa e seu comércio tornou-se uma renda importante para Portugal. Uma das primeiras drogas do sertão a ser explorada, passou a ser cultivada oficialmente no Brasil em 1679, mas antes disso, já era encontrada no Pará e arredores. Antes dos portugueses, os espanhóis já tinham despertado os europeus para o sabor especial do chocolate, que se tornou uma bebida obrigatória no continente. Os padres jesuítas, estabelecidos na região Norte desde o início do século XVII, foram pioneiros no cultivo do cacau e na exploração de diversas drogas do sertão, usando para isso o conhecimento e a mão-de-obra indígena. Os bandeirantes também se aproveitaram da riqueza amazônica antes de se dedicarem à extração do ouro.
O guaraná, espécie desconhecida na Europa, já era plantado e domesticado pelos indígenas saterés-mawés muito antes da chegada dos colonizadores. Eles usavam o guaraná como antídoto para venenos, para tratar diarreia, enxaqueca e, sobretudo, como estimulante. Também coube aos jesuítas o primeiro registro histórico do guaraná, na segunda metade do século XVII, na região dos rios Madeira e Tapajós. Até hoje, o Brasil é o único país produtor comercial de guaraná para o mercado nacional e internacional.
O óleo da copaíba (acima) também foi um produto amplamente exportado para a Europa. Suas propriedades medicinais eram muito conhecidas pelos indígenas, que o usavam como cicatrizante em diversos tipos de feridas e até no umbigo dos recém-nascidos. Eles teriam aprendido observando os animais que, uma vez feridos, costumavam se esfregar no tronco dessa árvore para se curar. Essa droga ficou conhecida logo pelos primeiros europeus que chegaram ao Brasil e propagandearam nos seus escritos o poder de cura da planta.
Outra droga do sertão que foi amplamente exportada graças a seu poder de cura foi a salsaparrilha (acima), conhecida pelos indígenas como japecanga. Eles utilizavam muito suas folhas e frutos como condimento na culinária, mas também o remédio, extraído de suas raízes, com propriedades depurativas e diuréticas. Os europeus passaram a usá-lo para reumatismo, febres e, principalmente, contra a sífilis, o que tornou essa droga um sucesso de exportação. Os portugueses a chamavam de raiz da China pela semelhança com a espécie chinesa.
O pau-cravo ou cravo-do-maranhão, outra especiaria que foi explorada, está hoje em vias de extinção. Essa droga era muito usada na culinária europeia em substituição ao cravo da Índia e muitas árvores foram derrubadas para a extração do pó de sua casca que tinha bastante valor para exportação. Melhor sorte teve o urucum (abaixo), fruto usado pelos europeus como corante e condimento, substituindo o açafrão. Esse arbusto, hoje domesticado, sobrevive em grande quantidade e é exportado para a indústria de cosméticos.
O naturalista brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira (1756-1815), que fez a expedição conhecida como Viagem Filosófica pelo Brasil, de 1783 a 1792, chamou a atenção do governo português para o problema que tantas extrações das drogas do sertão poderiam causar para o comércio, que naquela época já começava a minguar. Ele não pode prever o risco de extinção de algumas espécies, mas acreditava que o incentivo à agricultura seria melhor, até economicamente, que o extrativismo desenfreado. "Não se tem até agora prosperado tanto, quanto podia prosperar a agricultura do anil, do café e do tabaco, que são gêneros ricos e permanentes, porque os poucos braços que há, se tem empregado na colheita das drogas do sertão por onde andam distraídos os índios a maior parte do ano, dependendo da riqueza precária do mato; sem se coadjuvarem os comerciantes dos cálculos da aritmética mercantil e política, que são a chave do comércio mais bem entendido entre os povos", escreveu o naturalista em seu livro Viagem Filosófica ao Rio Negro (Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, 1983). São de José Joaquim Freire (1760-1847) e Joaquim José Codina (1700-1790), os desenhistas que o acompanharam na expedição, as ilustrações deste artigo.