A Biblioteca Guita e José Mindlin, da Universidade de São Paulo (USP), uma das coleções de brasiliana mais relevantes do país, reunida por mais de 80 anos pelo casal de bibliófilos, vem se juntar ao portal Brasiliana Iconográfica. Com isso, novas imagens se reúnem às mais de 2.500 gravuras, pinturas, desenhos e aquarelas já disponíveis para consulta neste portal.

O enorme acervo da Biblioteca amplia significativamente o espectro de imagens e as possibilidades de pesquisa na Brasiliana Iconográfica, especialmente no que se refere aos séculos iniciais da colonização do Brasil. Além disso, por ser a primeira instituição deste portal que pertence a uma universidade, sua chegada deve promover a aproximação da comunidade acadêmica e da produção científica contemporânea, possibilitando releituras, revisões historiográficas e novas interpretações para as imagens.

Do século XVI, havia no portal apenas as 29 gravuras de Cenas de Antropofagia no Brasil, de Theodore de Bry (1528-1598), que agora poderão ser cotejadas com as gravuras de Hans Staden, que a Biblioteca Guita e José Mindlin está trazendo para cá.

Cenas de Antropofagia no Brasil

Essas ilustrações, da Coleção Brasiliana Itaú, são parte do livro Americae Tertia Pars Memorabile Provinciae Brasiliae Historiam, publicado em 1596. O gravador e editor de origem flamenga obteve sucesso com seus livros que compilavam relatos e gravuras de muitos viajantes, entre eles Hans Staden (1525-1576), que esteve no Brasil por oito anos e ficou prisioneiro dos tupinambás. O viajante e mercenário alemão, que trabalhava para os portugueses na então Capitania de São Vicente, retornou para sua terra natal quando obteve a liberdade, em 1554, e publicou, em 1557, o relato intitulado, em tradução livre, A verdadeira história dos selvagens, nus e ferozes devoradores de homens, encontrados no Novo Mundo, a América (Warhaftig Historia und beschreibung eyner Landtschafft der Wilden, Nacketen, Grimmigen Menschfresser Leuthen, in der Newenwelt America gelegen). Com dezenas de ilustrações, que em breve estarão disponíveis neste portal, a publicação descreve a percepção de Staden sobre os povos tupi da costa brasileira, com destaque para o ritual antropofágico dos tupinambás.

Ampliando ainda mais a representatividade de obras do século XVI, a Biblioteca acrescenta ao portal xilogravuras do livro As Singularidades da França Antártica (Les singularitez de la France Antarctique), de 1558, que documenta a fauna e a flora do Brasil e foi escrito pelo missionário franciscano francês André Thevet (1502-1590). Ele esteve por três meses na Baía de Guanabara, então colônia francesa, registrando plantas como abacaxi, batata-doce e mandioca, e animais como tucano e preguiça. 

No campo das indumentárias, o portal vai receber a coletânea Antologia sobre a diversidade de vestimentas que estão atualmente em uso nos países da Europa, Ásia, África e Ilhas selvagens (Recueil de la diversité des habits, qui sont de present en usage, tant es pays d'Europe, Asie, Afrique & Isles sauvages), do francês François Desprez (1525-1580), publicado em1567.

As obras publicadas no século XVII já disponíveis neste portal são em sua maioria as ilustrações científicas, botânicas e zoológicas, do naturalista alemão Georg MarcGraf (1610-1644) e as gravuras e pinturas do artista holandês Frans Post (1612-1680). Ambos estiveram no Brasil a serviço do conde Mauricio de Nassau (1604-1679), governador-geral do Brasil holandês. São também da Holanda duas novas obras, da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, que vão acrescentar imagens do século XVII ao portal: Descrição da penosa viagem feita ao redor do universo ou globo terrestre (Description du penible voyage fait entour de l'univers ou globe terrestre), do navegador e pirata Olivier van Noort (1558-1627), publicada em 1612, e que narra um confronto entre sua esquadra e os portugueses na Baía da Guanabara; e O novo e desconhecido Mundo (De Nieuwe en Onbekende Weereld), obra mais famosa do escritor Arnoldus Montanus (1625-1683), com quase 200 páginas sobre o Brasil ilustradas com 15 imagens, e publicada em 1671.

Num primeiro momento, cerca de 100 a 200 imagens da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin serão adicionadas à Brasiliana Iconográfica, que pretende assim ampliar ainda mais seu público. Essas imagens, como as que já estão disponíveis aqui, estarão acessíveis no display digital de alta definição, com recurso de zoom que exibe cada obra em detalhes e informa origem, temas, histórias e ficha catalográfica.