O holandês Arnoldus Montanus (1625-1683) escreveu sobre diversas partes do mundo sem sair da Europa. Seus livros, baseados em relatos e obras de viajantes, exploradores e missionários, se tornaram referência sobre o Oriente e o então chamado Novo Mundo, revelando, principalmente, o olhar dos europeus do século XVII sobre esses lugares distantes.

De Nieuwe en Onbekende Weereld [...]

Nascido em Amsterdam, estudou na Universidade de Leiden e se tornou professor, religioso e escritor. Na obra America, publicada em 1671, por Jacob van Meurs, Montanus descreve as regiões dos países hoje conhecidos como Canadá, Estados Unidos, toda a América Central e Latina. As ilustrações, que agora integram a Brasiliana Iconográfica e foram retiradas da primeira edição da obra, são relativas ao Brasil e foram feitas a partir de imagens produzidas por diversos pintores e exploradores que estiveram por aqui.

Brasilia

O título completo do livro, como era comum na época, é imenso: O mundo novo e desconhecido, ou descrição de americanos e sulistas, passeios memoráveis pelo mundo, validade das ilhas continentais, cidades, fortalezas, aldeias, templos, fontes de Berger, riachos, casas, a natureza dos animais, árvores, plantas e cultivo Colheitas, Deus (em tradução feita pela Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin). O texto percorre aspectos da geografia, do clima, da fauna, flora e dos povos que habitavam o continente.

[Descrição fantasiosa de animais da fauna brasileira]

Na parte relativa à fauna podemos ver, na gravura acima, como os animais até então desconhecidos causaram estranheza aos europeus resultando em imagens fantasiosas de bichos com feições humanas. Sobre os povos originários, as imagens também são exageradas pelos relatos recebidos, como a cena de antropofagia retratada abaixo.

[Cerimônia antropofágica após uma batalha entre grupos indígenas distintos]

Com suas fantasias e generalizações, America é uma obra de seu tempo e exprime, além de sua visão religiosa e histórica, o fascínio dos europeus pelos povos e territórios até então desconhecidos. Em edição luxuosa, com 125 gravuras, a obra conquistou leitores e teve uma tradução em inglês, por John Ogilby (1600-1673), lançada no mesmo ano, e outra alemã, de Philipp von Zesen (1619-1689), dois anos depois, em 1673.

Arx Principis Guilielmi

As ilustrações do livro são todas relativas ao norte e nordeste do Brasil, onde os holandeses haviam se estabelecido na primeira metade do século XVII e algumas delas são baseadas em gravuras de Frans Post (1612-1680), já publicadas na Holanda, em 1647, na obra História dos Feitos Recentemente Praticados durante Oito Anos no Brasil e noutras partes sob o Governo do Ilustríssimo João Maurício Conde de Nassau, de Gaspar Barléu (1584-1648). Quando o livro de Montanus veio a público, os holandeses já haviam sido expulsos do Brasil pelos portugueses.

[Engenho de açúcar e trabalhadores escravizados]

O engenho de açúcar (acima), que tanto lucro deu aos holandeses, não poderia ficar de fora, mas o que chama bastante atenção são as cenas de conflito entre europeus, indígenas e escravizados, uma resistência muitas vezes esquecida pela história.

[Homem de pele clara ataca um nativo. Ao fundo, cena de conflito entre homens de pele clara e nativos]
[Combate entre negros escravizados e europeus]
[Execução de um europeu e conflito entre nativos e europeus]