A história da Lagoa Rodrigo de Freitas está intimamente ligada à do Jardim Botânico, outro cartão postal do Rio de Janeiro. Habitada pelos indígenas Tamoios até os anos 1570, a lagoa era conhecida por diversos nomes, como Piraguá, Sacopenapã, Camamducaba, Sacopã ou dos Socós (raízes chatas). Mas a área foi logo conquistada pelos portugueses que, percebendo a fertilidade das terras, instalaram ali um primeiro engenho de açúcar, chamado de Engenho D'El Rei, na área onde se localiza o Jardim Botânico.

Com isso, a partir de 1577, foi criado o primeiro caminho, passando pelo que hoje é o bairro de Botafogo, que ligava o centro à lagoa. Dali, era possível pegar uma embarcação para chegar ao engenho ou às praias, hoje conhecidas como Ipanema e Leblon, ou seguir a cavalo pela estrada que foi aberta entre a lagoa e a encosta do Corcovado.

As terras férteis que se estendiam até os atuais Jardim Botânico e Gávea foram adquiridas, por volta de 1606, por Sebastião Fagundes Varela e nessa época ficou conhecida como a Lagoa do Fagundes. Ele ampliou sua propriedade e ao morrer era dono do que hoje se conhece como os bairros do Humaitá, Fonte da Saudade, Lagoa, Jardim Botânico, Gávea, Ipanema e Leblon.

A bisneta de Varela, Petronilha Fagundes (1671-1717), casou-se, em 1702, com o oficial da cavalaria e jovem português Rodrigo de Freitas Melo e Castro (1684-1748), que deu o nome pelo qual a lagoa é conhecida até hoje. A propriedade permaneceu com a família até 1808, quando a Corte portuguesa chegou ao Rio de Janeiro.

D. João VI (1767-1826) desapropriou o engenho da lagoa, que já estava abandonado desde a morte do oficial, o transformou na Fazenda Nacional da Lagoa Rodrigo de Freitas e construiu no local a Real Fábrica de Pólvora. D. João VI funda ainda, no mesmo local, um jardim para aclimatação de plantas exóticas, o Real Horto Botânico, que se tornaria o atual Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Lagoa de Freitas
Lagoa de Freitas

Nas pinturas acima, feitas por volta de 1820 e atribuídas ao comerciante inglês Joseph Tully, podemos ver a lagoa em dois ângulos diferentes, com pouquíssimas habitações e pessoas. O mesmo vale para a gravura abaixo, datada de 1822, do tenente também inglês, Henry Chamberlain (1796-1843). Ambos se referem a ela como "Lagoa de Freitas".

Lagoa de Freitas
Lagoa dos Freitas. Brazil

Uma outro desenho (acima), sem data e autoria definidas, retrata a "Lagoa dos Freitas" como uma área praticamente despovoada. Charles Landseer (1799-1879), artista inglês que esteve no Brasil entre 1825 e 1826, também deixou seus registros de duas vistas de pontos importantes da geografia carioca tomadas a partir da lagoa: a Pedra da Gávea e o Pão de Açúcar.

Gaviao from Lagoa de Freitas
Sugar Loaf from Lagoa dos Freitas

Um pouco mais frequentada, parece a lagoa retratada pelo artista alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858), em 1835, com homens a cavalo e em uma pequena carruagem. É curioso o fato de ele nomear o local como Lagoa das Tretas e uma explicação para isso é difícil de encontrar.

Lagoa das Tretas

Na pintura do artista alemão Carl Robert Edler von Planitz (1806-1847), de 1857, é possível observar casas construídas ao longo da estrada que já ligava a lagoa ao bairro de Botafogo.

Lagoa de Rodrigo de Freitas, com Morro do Corcovado. Rio de Janeiro

Também da segunda metade do século XIX são as pinturas atribuídas ao italiano Nicolau Facchinetti (1824-1900), que viveu no Rio de Janeiro a partir de 1849.

Lagoa Rodrigo de Freitas (Morro Dois Irmãos) (atribuído)
Lagoa Rodrigo de Freitas (Corcovado) (atribuído)

Todas essas imagens retratam a lagoa como uma área bastante preservada e bucólica. Depois do declínio da fase dos engenhos, quando uma grande extensão ali era tomada por canaviais, a região foi loteada e chácaras passaram a ocupar os espaços em torno da lagoa. A partir de 1850, a região tinha ainda um ar campestre e era habitada por estrangeiros em busca de um ar saudável, mas também por trabalhadores que procuravam as fábricas que começavam a se instalar ali.

Até o final do século XIX, a área da lagoa permaneceu quase intacta, apenas alguns aterros haviam sido feitos na região do Leblon. Depois, o entorno da lagoa foi se urbanizando e sofrendo sucessivos aterros. Em 1809, o espelho d'água da lagoa tinha 4,48 milhões de m². Mas no século XX, sofreu tantos aterros que ficou reduzida quase à metade do seu tamanho. Em 1975, seu espelho d'água tinha 2,30 milhões de m². Somente no ano 2000, o tombamento foi oficializado e a sua geografia preservada.