Jacques Arago (1790-1855) nasceu em Estagel, no sudeste da França, em uma família de republicanos. Como era comum na sua época, entrou para a escola militar, porém foi dispensado pouco tempo depois porque estava sempre envolvido em conflitos. Dali foi tentar a sorte na Marinha, a bordo do navio Adonis, onde permaneceu apenas seis meses. Começou então a estudar Direito em Toulouse, mas já havia tomado gosto pelas viagens e decidiu que era isso que queria fazer. Com caderno e lápis, passou a percorrer o Mediterrâneo, passando pela Córsega, Sardenha, Sicília, parte do Oriente e da África.

Em 1817, com a ajuda de seu irmão mais velho, François, ele conseguiu embarcar como desenhista em uma expedição científica ao redor do mundo sob o comando do navegador francês Louis-Claude de Saulces Freycinet (1779-1842), a bordo no navio Uranie.

A expedição saiu de Toulon, na França, passou por Gibraltar, Tenerife, Rio de Janeiro, onde ficou cerca de dois meses, Cabo da Boa Esperança, Ilha Maurícia, Ilha de Bourbon, Austrália, Timor, Ilha de Rawak, Ilhas Marianas, Ilhas Carolina, Havaí, Nova Zelândia, Terra do Fogo, Ilhas Maldivas, onde o Uranie sofreu danos e quase naufragou, sendo substituído pela corveta Physicienne. Na volta, a expedição permaneceu mais três meses no Rio de Janeiro, retornando à França em seguida, em novembro de 1820.

Baie de Rio de Janeiro: Vue de Praia Grande

Suas ilustrações e registros de viagem foram publicados, primeiramente, logo que voltou a Paris, em 1822, no seu relato em forma de correspondência a um amigo: Promenade autour du monde pendant les années 1817- 1821, sur les corvettes du roi l’Uranie et la Physicienne, commandées par M. Freycinet. Arago voltou a ilustrar e escrever sobre a viagem ao colaborar na publicação oficial sobre a expedição: Voyage autour du monde, entrepris par ordre du roi. Exécuté sur les corvettes de S.M. l’Uranie et la Physicienne pendant les années 1817, 1818, 1819 et 1820 (Paris, 1824-1844). São parte desta publicação as gravuras de Arago que ilustram este texto.

Vue de Notre-Dame De bon Voyage (Rade de Rio de Janeiro)

Ainda durante a viagem, quando o navio Uranie estava nas Ilhas Marianas, no oceano Pacífico, Arago teve os primeiros sinais da doença que lhe tiraria a visão alguns anos depois. Já de volta a Paris, em 1824, começou a ver os objetos embaçados, mas nem por isso deixou de desenhar, publicando nessa época muitas litografias e caricaturas. Paralelamente à sua carreira como desenhista, Arago também escreveu muitos textos, artigos de jornal e principalmente peças de teatro, pelas quais se tornou conhecido.

Vue d'une Partie de la Ville et du Grand Aqueduc de Rio de Janeiro

Mas seu principal sucesso literário veio mesmo da sua viagem ao redor do mundo. Já cego, lançou, em 1839, uma versão mais aprofundada e em forma de romance, criada a partir dos relatos publicados anteriormente, com o título Souvenirs d’un aveugle. Voyage autour du monde, em quatro volumes, ilustrado com 60 gravuras a partir de desenhos seus. A obra foi reeditada em cores, em formatos maiores e menores, traduzida em várias línguas ao longo de anos e teve grande repercussão.

Em 1848, o espírito aventureiro de Arago tomou conhecimento da descoberta de ouro na Califórnia e entrou para uma associação de exploradores chamada Aragonautas. Com quase 60 anos e cego, decidiu ir pessoalmente com os outros associados a Sacramento para explorar as minas. Mas, chegando no Chile, uma briga com os outros sócios o afastou da expedição. Dali ele seguiu até o Taiti e veio novamente ao Rio de Janeiro. Nessa estada no Brasil, Arago teria assistido no teatro São Januário à apresentação de sua peça A Gargalhada, interpretada pelo ator e produtor teatral João Caetano (1808-1863), que se tornou seu amigo.

AVue de la Salle de Spetacle sur la Place do Rocio, à Rio de Janeiro

De volta à França, em 1851, conheceu o escritor francês Júlio Verne (1828-1905), seu admirador, que iria se inspirar em Arago na escrita de seus famosos livros, como A Volta ao Mundo em 80 Dias.

Em 1854, Arago publicou seu último romance, Deux Océans, e o dedicou a D. Pedro II. Na dedicatória, Arago, cansado de lutar pela república, escreveu que a democracia e a monarquia viajam às vezes lado a lado, como amigos. Segundo François Sarda, biógrafo da família de Arago, ele teria interesse em ficar no Brasil e ganhar a direção de um teatro. No ano seguinte ao lançamento do livro, em janeiro de 1855, Arago foi expulso da França por motivos políticos e voltou ao Brasil, onde morreu de derrame cerebral, pouco tempo depois de chegar, na casa de seu amigo João Caetano.