Os pintores Nicolas-Antoine e Félix-Émile Taunay, pai e filho, viveram no Brasil uma história ligada à da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba). Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830) já era um artista conceituado na França quando chegou ao Brasil, em 1816, com sua mulher, os cinco filhos (Charles, Hippolyte, Theodore, Félix e Adrien) e o irmão, o escultor Auguste.

O pintor, já com 61 anos, veio com a chamada Missão Artística Francesa, um grupo de artistas que teriam sido contratados por dom João VI (1767-1826) para criar no Brasil uma academia de artes, nos moldes da que havia na França. Nicolas Taunay passou a ser membro da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, que daria origem à Academia Imperial de Belas Artes, onde deveria ensinar pintura de paisagem.

Mas já naquela época, as coisas no Brasil demoravam a acontecer, e Nicolas Taunay passou cinco anos no Brasil à espera de que a Academia fosse instituída. Comprou um terreno na Floresta da Tijuca, pintou paisagens do Rio de Janeiro e fez retratos encomendados pela família real e por membros da corte. Como este da Marquesa de Bellas, Dona Constança Manuel de Menezes, em traje de luto pela morte da então rainha de Portugal Dona Maria I, de quem era camareira-mor.

Marquesa de Bellas, D. Constança

Estima-se que o artista francês tenha produzido de 25 a 40 telas com temas brasileiros. A estada de Taunay no Brasil marcou suas paisagens, nas quais teve de conciliar a natureza calma e ordenada de sua formação neoclássica com as cores vibrantes e a luminosidade excessiva da paisagem confusa dos trópicos.

Nicolas Taunay havia pedido licença de seu cargo de presidente da classe de Belas Artes no Instituto de França para vir ao Brasil. Na época, com a queda de Napoleão, de quem era pintor oficial, essa lhe pareceu a melhor saída para a crise política e financeira que vivia então. Mas sua vida por aqui não se desenvolveu como imaginara. Finalmente, desgostoso pelo fato de não ter sido nomeado diretor da Academia, cargo concedido ao pintor português Henrique José da Silva (1772-1834), que não era tão conhecido quanto ele, o pintor francês decidiu voltar para seu país em 1821, sem chegar a ensinar na escola, que só foi efetivamente inaugurada em 1826.

Mas, mesmo sem ter dado aulas, a produção de Nicolas Taunay no Brasil foi muito importante para o desenvolvimento das pinturas de paisagem por aqui, tornando-se um gênero que rivalizava em importância e prestígio com as pinturas históricas.

Quem assumiu o cargo de professor de pintura de paisagem foi justamente seu filho Félix-Émile Taunay (1795-1881), que preferiu ficar no Brasil com seus irmãos Adrien, Charles e Theodore, e seu tio Auguste Taunay. 

Félix, que começou sua formação em pintura com seu pai, seguiu os passos dele e lhe fez uma homenagem póstuma, quando tomou posse como diretor da Aiba em 1834, depois da morte do português Henrique José da Silva.

Félix Taunay permaneceu no cargo até 1851 e, durante esse período, conseguiu transformar a instituição naquilo que seu pai também pretendia, com a criação das exposições Gerais de Belas Artes (1840), a pinacoteca (1843) e as bolsas de viagens ao exterior para artistas (1845), semelhantes ao que se tinha na França.

De Félix-Émile Taunay podemos ver aqui no site da Brasiliana algumas paisagens e também um retrato de dom Pedro II (1825-1891) com suas irmãs Francisca e Januária.

Panorama do Rio de Janeiro (tomado do Morro do Castelo)
D. Francisca. D. Pedro II

O pintor se tornou muito próximo do imperador e deu aulas de pintura e francês para ele e suas irmãs. Em 1871, recebeu de dom Pedro II o título de Barão de Taunay e seguiu produzindo no Brasil até seu falecimento, em 1881.