Em 2019 são comemorados os 250 anos de nascimento de Alexander von Humboldt, um dos mais importantes exploradores e naturalistas do mundo, que influenciou diversas gerações de cientistas e artistas, principalmente os viajantes. 

Integrante da aristocracia do Reino da Prússia, atual Alemanha, Humboldt estudou ciências naturais nas universidades de Frankfurt e Göttingen e na Escola de Minas de Freiberg. Atuou como funcionário público até 1796, quando, por causa da morte da mãe, recebeu uma herança que possibilitou dedicação total à ciência, sua grande paixão. Mudou-se para Paris e de lá partiu para uma viagem pelo Oriente Médio, mas a eclosão de conflitos no norte da África impediu que ele atravessasse o Mediterrâneo. Enquanto aguardava na Espanha, obteve do rei Carlos IV permissão especial para uma viagem inédita de exploração pelas colônias espanholas sul-americanas. Em 1799, desembarcou na Venezuela, onde permaneceu pouco mais de um ano. Junto com o médico e botânico Aimé Bonpland, explorou a região dos Llanos e as florestas tropicais às margens do rio Orinoco até chegar na fronteira com o Brasil. Não chegou a cruzá-la porque o governo português não permitiu  sua entrada, visto que ele viajava com um passaporte emitido pela Espanha, com quem Portugal estava em guerra naquele momento. 

Da Venezuela, Humboldt viajou para Cuba e depois para a Colômbia, quando iniciou uma expedição pelos Andes, passando também pelo Equador e Peru. Finalizou seu roteiro no México. Ao longo dos cerca de seis anos de viagem, Humboldt e Bonpland coletaram e registraram informações sobre a flora, a fauna e os diversos povos das regiões por onde passaram. Esses registros são tão importantes que, recentemente, um grupo de pesquisadores utilizou as medições de Humboldt no vulcão Chimborazo, no Equador, para mapear as mudanças na montanha nos últimos 210 anos e a perda da biodiversidade local.

De volta à Europa, o naturalista se estabeleceu em Paris, onde escreveu e publicou vários livros com os relatos de suas viagens. Em 1829, Humboldt embarcou em uma nova expedição pela Rússia e Ásia Central. Nessa viagem sinalizou, pela primeira vez, o perigo de desertificação do mar e da elevação na temperatura do planeta – problemas até hoje sem solução. Por esse motivo, alguns estudiosos o consideram como um dos primeiros ambientalistas do mundo. 

Humboldt morreu em 1859, aos 89 anos, enquanto trabalhava em sua principal obra, Cosmos, um tratado de ciências humanas e da natureza. Espécie de “ecologista”, antes de que a disciplina fosse propriamente constituída, interessou-se pelas relações entre o meio ambiente e os seres vivos, além de criar os conceitos de zonas climáticas e de vegetação na Terra. Com todas essas descobertas, influenciou cientistas como Charles Darwin e diferentes personalidades como Johann Wolfgang von Goethe, Thomas Jefferson, Simón Bolívar e Napoleão Bonaparte. 

Nas artes visuais, Humboldt é considerado um modelo por impulsionar a prática dos artistas viajantes do ponto de vista estético – já que seus registros da natureza inspiraram os trabalhos de muitos artistas sucessores – e também pelo incentivo às peregrinações de vários pintores ao continente americano. “Sua influência mais patente e imediata se manifestou entre franceses e alemães, porém logo se estendeu a todo o continente europeu e chegou inclusive a determinar o rumo do trabalho artístico de numerosos pintores dos Estados Unidos”, contam Pablo Diener e Maria de Fátima Costa em A Arte de Viajantes: de documentadores a artistas viajantes. Perspectivas de um novo gênero. “Para Humboldt, o melhor e mais acabado modelo que pode almejar o pintor de paisagens se encontra no mundo tropical. É ali onde o artista tem de praticar seus estudos acadêmicos. Pois, já com base nos conhecimentos adquiridos nas viagens, é que poderá chegar a uma compenetração profunda com a natureza e, com isso, ultrapassar o simples registro da sua experiência visual (...)”, completam. 

Forêt vierge du Brésil

O registro acima, do Conde de Clarac, é um exemplo – citado por Humboldt em uma carta a seu irmão – sobre o ele esperava de um artista viajante: a conjunção de pressupostos científicos e sensibilidade artística na representação da natureza tropical.  

Johann Moritz Rugendas conheceu Humboldt em Paris, em 1825, depois de retornar de sua primeira viagem ao Brasil como integrante da Expedição Langsdorff. Ao ver os registros do pintor alemão, Humboldt o ajudou a publicar Voyage Pittoresque dans le Brésil [Viagem Pitoresca através do Brasil], que se tornou um dos mais emblemáticos livros de viagem sobre o Brasil do século XIX. Humboldt também o encorajou a voltar para a América. Em carta a Rugendas, escreveu: “Alegro-me de sua decisão de ir a América e penso que, graças ao registro vivo dos tipos da vegetação que o Senhor realizará, se iniciará uma nova época na pintura de paisagem”. 

Forèt Viérge Près Manqueritipa. dans la province de Rio de Janeiro.

Eduard Hildebrandt também contou com a ajuda de Humboldt para viajar ao Brasil em 1844. Graças ao naturalista alemão, o aquarelista e pintor conseguiu várias encomendas da coroa da Prússia, o que possibilitou a viagem. Humboldt também apoiou Ferdinand Bellermann em uma viagem para Venezuela e Albert Berg, numa incursão para a Colômbia. “Ao revisar a obra que estes pintores realizaram em suas viagens pela América do Sul, nos convencemos que eles assumiram os escritos de Humboldt como uma cartilha”, explicam Pablo Diener e Maria de Fátima Costa. 

Neste ano comemorativo, iniciativas ao redor do mundo, como este site, tentam reavivar a memória e a importância deste explorador cujas pesquisas e descobertas são imprescindíveis até hoje.