Depois da chegada da corte portuguesa, em 1808, a Imprensa Régia brasileira foi criada e, com ela, as principais técnicas de impressão começaram a se desenvolver por aqui. Em 1825, o governo brasileiro fundou a primeira escola de impressão da Academia Militar e contratou o jovem suíço Johann Jacob Steinmann para dirigi-la.

Tendo estudado nos ateliês de Godefroy Engelmann, precursor da litografia na França, e de Alois Senefelder, inventor da técnica, o novo litógrafo oficial da corte desembarcou no Brasil com a missão de criar uma oficina litográfica dentro do Arquivo Militar. No entanto, o espaço designado à sala de aula não comportou a enorme prensa litográfica e seus alunos, fazendo com que Steinmann transferisse o ateliê para sua própria casa – o que possibilitou o trabalho em projetos paralelos aos do Império. 

Nessa época, os ateliês litográficos se multiplicaram no país, atuando como os principais responsáveis pela divulgação dos registros dos artistas, em especial dos viajantes que passaram por aqui. Tendo, na maioria das vezes, a natureza local como ponto de partida para a compreensão da sociedade brasileira, esses artistas produziram livros de viagens ou pequenos álbuns na tentativa de revelar uma visão panorâmica do Brasil para o exterior. Nesse contexto, a litografia, pela rapidez na execução da imagem e possibilidade de reaproveitamento das matrizes, foi o principal meio de circulação e de difusão das imagens, e os ateliês particulares se revelaram um bom negócio.

Moro do Castello & da Praya d'Ajuda

Depois de cinco anos trabalhando para o Império, Steinmann decidiu abrir sua própria oficina litográfica. Também trabalhou como tipógrafo e vendedor de livros. Depois de voltar para a Europa, em 1833, publicou seu próprio álbum: Souvenirs de Rio de Janeiro dessinés d’aprés nature & publiés par J. Steinmann, que pode ser consultado na íntegra na Brasiliana Iconográfica, tanto a partir da obra preservada pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, como no exemplar guardado na Coleção Brasiliana Itaú. Com 12 estampas, as gravuras foram criadas por Friederich Salathé com base em nove desenhos de Steinmann e em registros dos pintores Eduard de Kretzschmar e Victor Barral. Curiosamente, ao invés de imprimir seus souvenirs na técnica que dominava, a litografia, Steinmann optou pela água-tinta, método mais sofisticado de gravação, que se utiliza de uma matriz de cobre.

Souvenirs de Rio de Janeiro foi um dos primeiros conjuntos de gravuras sobre a cidade publicados na Europa na primeira metade do século XIX. Ao que tudo indica, Steinmann colocou seus álbuns à venda em Paris e, na capa, deixou espaço para o registro do nome do comprador e da data da compra, o que fez com que os álbuns tivessem anos de publicação variados – o primeiro é de 1835, mas há também cópias de 1836 e 1839. Todas as imagens do álbum têm uma moldura floral com desenhos de índios, tipos de rua e frutas brasileiras, aparentemente inspirados nos registros de outro viajante, Johann Moritz Rugendas. 

Vista do Sacco d´Alferès & de St. Cristovao

Por suas características, o álbum de Steinmann nos permite refletir sobre a veracidade que se busca nas imagens produzidas pelos artistas viajantes. Pesquisadores ressaltam que, na obra de Steinmann, por exemplo, os perfis de montanhas estão alterados e algumas construções são difíceis de reconhecer. É importante pensar que a gravura, naquela época, era resultado da atuação de muitos artistas, alguns dos quais nunca tiveram a oportunidade de efetivamente ver as paisagens que estavam desenhando. Sem dúvida, este álbum é um bom exemplo disso. Como o próprio título indica, a ideia era vender as pequenas vistas como um presente, num formato que nos lembra hoje o de um cartão postal.