O desenhista, pintor e ilustrador inglês William Alexander (1767-1816) embarcou aos 25 anos na primeira missão diplomática britânica na China, como assistente do pintor irlandês Thomas Hickey (1741-1824). A viagem durou dois anos e Alexander acabou assumindo a posição de ilustrador principal porque Hickey, por problemas psicológicos, não conseguiu cumprir sua tarefa.

A missão, que ficou conhecida como Embaixada Macartney, saiu do porto de Portsmouth, no sul da Inglaterra, no dia 26 de setembro de 1792 em três navios que levavam mais de uma centena de pessoas, chefiadas pelo conde George Macartney (1737-1806) e seu secretário-geral, o diplomata George Staunton (1737-1801), os dois irlandeses. Enviada pelo rei da Grã-Bretanha Jorge III (1738-1820), a expedição tinha como objetivo fortalecer o comércio britânico com a China, promover a abertura de novos portos para negócios entre esses países, a criação de uma embaixada britânica permanente em Pequim e o relaxamento das restrições aos comerciantes britânicos no Cantão, entre outros pedidos. O imperador chinês Qianlong (1711-1799) recusou todos e, do ponto de vista comercial e diplomático, a missão foi um fracasso.

City of St. Sebastian Rio de Janeiro (Dec.r 1792.)

Antes de chegarem à China, os navios pararam na Ilha da Madeira, nas Ilhas Canárias e em Cabo Verde. De lá, seguindo os ventos ou outras necessidades de navegação, vieram para o Rio de Janeiro, onde permaneceram por cerca de quinze dias, antes de seguirem em direção ao Cabo da Boa Esperança. Em seu livro Rio de Janeiro de antanho - Impressões de viajantes estrangeiros (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1942), o historiador Afonso d'Escragnolle Taunay (1876-1958) dedica um capítulo a essa passagem da missão pelo Brasil e cita o relatório feito pelo secretário George Staunton: "Nos primeiros dias de dezembro de 1792 ancorava a divisão britânica em águas da Guanabara. Não gastou o autor uma só linha com os louvores do panorama guanabarino, a que parece insensível. Gaba, no entanto, a segurança do porto fluminense e o aspecto da cidade, de ruas retas, bem calçadas, onde as casas em pedra de talha abundavam. O cais de desembarque, achou-o soberbo, assim como o grande aqueduto da Carioca".

The Aqueduct in Rio de Janeiro (taken Dec.r 1792.)

As duas gravuras (acima) de Alexander William, que integram o acervo da Brasiliana Iconográfica, foram publicadas na Inglaterra em 1812, a partir de desenhos realizados por ele nessa estadia, em dezembro de 1792, conforme indicam os títulos das obras. As paisagens mostram um pouco da calmaria da cidade do Rio de Janeiro ainda no período colonial, antes da abertura dos portos a navios estrangeiros e da chegada da família real, o que só ocorreria 16 anos depois, em 1808.

Se para o governo britânico a Embaixada Macartney terminou em um fiasco comercial, para o jovem pintor foi um divisor de águas em sua carreira. De volta à Inglaterra, em 1794, realizou centenas de aquarelas, a partir de seus esboços de viagem, de figuras humanas, paisagens, cerâmicas e tudo o que encontrou pelo caminho, principalmente na China. Expôs na Academia Real de Artes, atraindo um grande público e criando entre os ingleses um rico imaginário oriental que não existia antes.

Entre 1802 e 1808, Alexander foi professor de Desenho de Paisagem na Academia Militar Real em Great Marlow, a oeste de Londres, e depois se tornou bibliotecário assistente além de ser o primeiro curador de gravuras e desenhos do Museu Britânico.