Duas pinturas do francês Adolphe Théodore Jules Martial Potémont (1827-1883) integram o acervo da Pinacoteca de São Paulo e estão presentes neste portal: uma paisagem urbana e outra na beira de um rio. Não há referências sobre os locais retratados nessas obras, mas as duas datam de 1870, quando o artista parisiense teria estado no Brasil e realizado também a pintura Embarcação nos fundos da baía de Guanabara, que pertence ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Apesar de ter produzido diversas pinturas, Potémont ficou mais conhecido na França como gravador e por seu Nouveau traité de la gravure à l’eau-forte pour les peintres et les dessinateurs, um tratado publicado em 1873 sobre a técnica da água-forte, que utiliza uma placa metálica para gravar o desenho. Ele publicou centenas de gravuras de Paris antigo, criando desenhos que mostravam a arquitetura e trabalhadores tradicionais da cidade, e ganhou notoriedade pelas 57 placas que gravou a partir dos desenhos de Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) para ilustrar os Contos do poeta Jean de La Fontaine (1621-1695).
Potémont estudou na França com os pintores Léon Cogniet (1794-1880) e Félix Brissot de Warville (1818-1892) e, entre 1847 e 1857, viveu na ilha da Reunião, colônia francesa no oceano Índico, onde produziu pinturas, gravuras e alguns álbuns, o mais conhecido deles, Souvenirs de l'Ile de la Réunion, em parceria com Louis Antoine Roussin (1819-1894), artista francês que também vivia na colônia africana.
A pintura acima, um óleo sobre madeira, retrata quatro figuras humanas à margem de um rio, cercadas de vegetação exuberante em uma atmosfera tranquila. O artigo "Brasil e Índico na pintura de paisagens - Adolphe Martial Potémont (1827-1883) e Charles Merme (1818-1869) - La Baie de Guanabara e Paysage du Madagascar. Ilhas Comores ou Amazonas?" (Revista Brasil Europa 155/7, 2015) sugere que o tipo de paisagem pintada por esses artistas que transitaram entre a África e o Brasil permite misturas e a incerteza sobre sua localização, uma vez que busca retratar mais a atmosfera do lugar do que indicadores geográficos. "Esse fato pode ser considerado como exemplo da possibilidade de substituições geográficas de obras da pintura paisagística, valendo antes momentos de captação e registro atmosférico e de sensações do que de registro documental de regiões", afirma o artigo, fruto de estudo da Academia Brasil-Europa, organizado pelo pesquisador Antonio Alexandre Bispo.
O mesmo se pode dizer da paisagem urbana (acima), que mostra uma rua calma, ensolarada e quase vazia em uma idílica cidade brasileira, que pode ser o Rio de Janeiro ou outras. O artigo citado informa que "Potémont foi autor de uma série de 30 desenhos resultantes de uma viagem pelo Amazonas, em particular de paisagens do Pará".