Os calon foram o primeiro grupo do povo romani, antes chamado de "ciganos", a chegar ao Brasil e até hoje são os de maior número por aqui. Muitos calon, originários da Grécia ou do norte da África, não se sabe ao certo, viviam na península Ibérica. Vítima de preconceito dos europeus, que os consideravam ladrões, vagabundos e impuros, eles se espalharam pelo mundo. Portugal teve várias políticas de "higienização cigana" e assim, ainda no século XVI, muitas famílias chegaram à Bahia, deportadas ou fugindo de perseguições. João Torres foi o primeiro calon que teria chegado ao Brasil em 1574, junto com sua mulher e filhos. "A deportação de ciganos portugueses para o Brasil, ao que tudo indica, só começou mesmo a partir de 1686. Dois documentos portugueses daquele ano informam que os ciganos deviam ser degredados também para o Maranhão. Antes eram degredados somente para as colônias africanas. A escolha da Coroa pela capitania do Maranhão visava pelo menos a dois objetivos. Primeiro, colocar os ciganos 'bastante afastados das áreas brasileiras de mineração e de agricultura assim como longe dos principais portos da colônia, do Rio de Janeiro a Salvador'. Segundo, esperava-se que os ciganos ajudassem a ocupar extensas áreas dos sertões nordestinos, então ainda ocupadas por índios. Ainda que perigosos, preferia-se os ciganos aos índios", escreveu o pesquisador Rodrigo Corrêa Teixeira em seu livro História dos Ciganos no Brasil (Recife: Núcleo de Estudos Ciganos, 2008).
Da Bahia, onde formaram grandes acampamentos, muitos calon migraram para Minas Gerais, no início do século XVIII, em busca das oportunidades que a exploração do ouro oferecia também aos comerciantes. Espalhadas pelo Brasil, as comunidades foram se estabelecendo, algumas mais nômades e outras mais integradas à sociedade. No Rio de Janeiro, se instalaram na região de brejos que mais tarde se tornaria o Campo de Santana, o Valongo e o Campo dos Ciganos, atual Praça Tiradentes. No ano de 1760, o rei Dom José I (1714-1777), de Portugal, determinou que eles deveriam se limitar a um só espaço, que se tornou a rua dos Ciganos, atual rua da Constituição.
A chegada da Corte portuguesa ao Brasil, em 1808, trouxe um período próspero para essas comunidades, principalmente para os que se dedicavam ao comércio de escravizados. O francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) criou algumas gravuras e muitas linhas de texto para descrever de maneira bastante preconceituosa o povo romani no Brasil. Na gravura acima, interior de uma casa de ciganos, Debret mostra as mulheres cercadas por escravizados no pátio da habitação. "Os ciganos, dedicando-se exclusivamente ao comércio, abandonam por completo a educação de seus filhos; (...) por isso, desde criança se encontram de cigarro na boca e caixa de rapé na mão, exercitando-se impunemente, e às vezes mesmo com o encorajamento culpado dos seus, na trapaça, no jogo, no roubo, e dirigindo a seus pais os mais revoltantes insultos", escreveu o francês em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2016), publicado em Paris em 1835.
Nesta outra gravura, do mercado da rua do Valongo, Debret mostra um homem sentado que tenta vender um escravizado e, na sua descrição, afirma: "Reproduzi aqui uma cena de venda. Pela disposição do armazém e a simplicidade do mobiliário, vê-se que se trata de um cigano de pequena fortuna, traficante de escravos". Os calon vendiam escravizados de segunda mão, muitas vezes de porta em porta e nas fazendas pelo interior, e com essa atividade se tornaram conhecidos e alguns enriqueceram. Mas não deixaram de enfrentar preconceito, sempre considerados trapaceiros. Segundo Debret, "os ciganos, traficantes de negros, verdadeiros negociantes de carne humana, não cedem em nada a seus confrades negociantes de cavalos, por isso deve-se tomar a precaução e levar consigo um cirurgião quando se quer escolher um negro nesses armazéns, a fim de fazer passar o escravo pelas provas e exames necessários".
Parece que acusar o povo romani de crueldade e trapaças no comércio de escravizados era uma maneira de os viajantes no Brasil aliviarem os europeus, seus anfitriões e conterrâneos. O tenente de artilharia e pintor inglês Henry Chamberlain (1796-1844) também retratou uma cena de venda de escravizados (acima). Pela imagem, não se interpreta imediatamente que se trata de um vendedor romani, mas no texto ele explica: "A gravura mostra um brasileiro já maduro examinando os dentes de uma negra, antes de comprá-la, enquanto o negociante, um cigano, gasta veemente eloquência em louvor das perfeições de sua mercadoria. A mulher que assiste à transação é criada do comprador, ouvida frequentemente em tais ocasiões" (Vistas e Costumes da Cidade e Arredores do Rio de Janeiro em 1819-1820, Rio de Janeiro, São Paulo: Livraria Kosmos, 1943).
Na gravura acima, Chamberlain se detém também na cultura romani, mas desta vez de maneira mais gentil: "Raramente vista na cidade, hoje em dia, a rede é no entanto comum nos arrabaldes e no interior e muito usada entre as mulheres da nação cigana, que se encontram em muitas partes do Brasil. Esta raça extraordinária forma aqui, como na Europa, uma classe distinta dos outros habitantes. Possuem os mesmos hábitos e conservam a mesma língua. São muito respeitados no tocante às propriedades, negociando com escravos, gado e cavalos, alguns até em grande escala".
Na primeira metade do século XIX começaram a chegar ao Brasil outras comunidades romani, com famílias da Europa central e dos Balcãs. Um deles foi Jan Nepomuscky Kubitschek, que se casou com uma brasileira e era o bisavô materno do presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976). No final do século XIX, muitos vieram junto com a grande imigração de italianos, alemães, poloneses, gregos e russos. A maioria entrou aqui clandestinamente, já que, depois de proclamada a República, o desembarque deles teria sido proibido pelas autoridades portuárias.