O pintor alemão Emil Bauch (1823-1890) chegou a Recife em 1849, com menos de 30 anos, depois de ter estudado artes em seu país de origem. Três anos depois, publicou na Europa o álbum litografado Souvenirs de Pernambuco, com 12 gravuras que retratam pontes, prédios públicos e a população da cidade, que havia passado por grande transformação durante os anos de 1837 a 1844, período do governo de Francisco Rego Barros (1802-1870), o conde de Boa Vista. Como presidente da província de Pernambuco, o conde foi responsável por modernizar a capital pernambucana, construindo, por exemplo, a ponte pênsil de Caxangá (abaixo), sobre o rio Capibaribe, finalizada em 1845 e primeira do Brasil a ser sustentada por cabos.
Da mesma época, são o Teatro Princesa Isabel, inaugurado em 1850, e o Palácio do Governo, construído em 1841 (abaixo), também chamado de Palácio Campo das Princesas, depois de receber a visita de D. Pedro II (1825-1891), da imperatriz Teresa Cristina (1822-1889) e de suas filhas, em 1859. Em todas as gravuras, há figuras humanas que habitam a paisagem. No largo do teatro, vemos mulheres, soldados, pescadores, crianças, homens a cavalo, além de animais como cachorros, que não só dão vida ao quadro, mas também realçam a grandiosidade das obras de arquitetura.
Segundo o historiador Gilberto Ferrez (1908-2000), na apresentação do livro O Recife de Emil Bauch – 1852 (Rio de Janeiro: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1984), Emil Bauch teria se baseado em fotografias para fazer suas gravuras: “O desenho da parte arquitetônica da cidade é fiel e meticuloso, porém de traços duros; já os personagens e animais, que tanto relevo dão a estas estampas, são bem observados e com naturalidade. Uma hipótese explicaria esta diferença de estilos: o pintor teria copiado de daguerreótipos ou fotografias toda a parte arquitetônica”.
Na gravura que retrata o Largo da Matriz da Boa Vista (acima), cujo chafariz foi inaugurado em 1846, vemos religiosos saindo da igreja e uma grande diversidade de habitantes ajoelhados, provavelmente pedindo bênçãos. Bauch se dedicou também a mostrar a arquitetura de Recife nas principais ruas, com seus casarões altos com varandas, como os da rua da Cruz, atual rua do Bom Jesus, e da rua do Crespo. Essas casas seguiam as normas de construção instituídas durante o governo do conde da Boa Vista. "No ano de 1839, uma postura municipal estabelece de forma minuciosa as medidas que regulamentam a construção da cidade, adotando padrões do urbanismo clássico e definindo elementos de composição urbanística que estabelecem o padrão estético dos sobrados do Recife", escreve a historiadora Maria Ângela de Almeida Souza, em sua tese Posturas do Recife Imperial (Recife: Universidade Federal de Pernambuco, 2002). Além dos casarões padronizados e retratados com perfeição, vê-se também uma cidade agitada, com a população em suas mais diversas ocupações. Vale a pena ampliar as imagens abaixo.
Por volta de 1857, Bauch se mudou para o Rio de Janeiro, provavelmente em busca de mais mercado para suas obras e continuou a produzir. Em 1859, participou da Exposição Geral de Belas Artes, na Academia Brasileira de Belas Artes (Aiba), e recebeu a medalha de prata. Na edição do ano seguinte, ganhou a medalha de ouro na mesma exposição.
Com o pintor francês Henri Nicolas Vinet (1817-1876), passou a ensinar pinturas de paisagem ao ar livre no Rio. Em 1872, recebeu de d. Pedro II o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa. Em 1873, expôs a litografia do Panorama do Rio de Janeiro (acima). Existem dúvidas quanto à data da sua morte, mas é provável que tenha ocorrido em um manicômio no Rio de Janeiro, em 1890.