Santa Catarina não foi um dos principais destinos dos viajantes europeus. Até o século XVIII, a maioria dos estrangeiros que por ali passava estava a caminho da Bacia do Prata e parava apenas para abastecer os seus navios. Os indígenas guaranis (conhecidos como carijós), que viviam no litoral, foram bastante receptivos com os colonizadores em um primeiro momento, mas depois, vendo seu modo de vida ameaçado pela catequização e a escravidão, começaram a se deslocar cada vez mais para o interior, onde viviam também isolados os indígenas kaigang e xoklengs.
O aventureiro alemão Hans Staden (c.1525-1576) aportou em Santa Catarina em 1549, quando o navio em que estava naufragou a caminho do Rio da Prata. "Ficamos aí dois anos no meio de grandes perigos e sofrendo fome. Tínhamos que comer lagartos, ratos de campo e outros animais esquisitos, que lográvamos colher, assim como mariscos que vivem nas pedras e muitos bichos extravagantes. Os selvagens que nos davam mantimentos só o fizeram enquanto recebiam presentes de nossa parte; fugiram depois para outros lugares, e, como não podíamos fiar-nos neles, dissuadimo-nos de aí continuar com perigo de arriscar nossas vidas", escreveu Staden sobre os carijós, que ele chama de selvagens, em Duas Viagens ao Brasil, seu relato que ficou conhecido no mundo todo, principalmente pelo trecho em que narra suas aventuras junto aos tupinambás. Na gravura abaixo, vemos os portugueses chegando à ilha de Santa Catarina e a menção à aldeia indígena Acutia.
Mais de um século depois, o bandeirante paulista Francisco Dias Velho iniciou ali, em torno de 1675, com sua família e outros desbravadores, o povoado Nossa Senhora do Desterro (que no final do século XIX passaria a se chamar Florianópolis). Mas em 1689 Dias Velho foi assassinado por piratas que destruíram a vila e sua população se dispersou.
Quando em 1712, o engenheiro militar francês Amedée-François Frézier (1682-1773) passou pelo povoado de Desterro, durante sua viagem até o oceano Pacífico, encontrou apenas cerca de 150 pessoas vivendo ali. "Em seu distrito havia então 147 brancos, alguns índios e negros libertos, dos quais uma parte acha-se dispersa pela orla da terra firme. (...) Na verdade, encontram-se eles em tão grande carência de todas as comodidades da vida que, em troca dos víveres que traziam a nós não aceitavam dinheiro, dando mais importância a um pedaço de pano ou fazenda para se cobrir, protegendo-os das penúrias do tempo; satisfazem-se com o vestuário de uma camisa e um par de calças; os mais distintos usam também um paletó de cor e um chapéu: quase ninguém usa meias ou sapatos (...) Esta gente, à primeira vista, parece miserável, mas eles são efetivamente mais felizes que os europeus, ignorando as curiosidades e as comodidades supérfluas que na Europa se adquirem com tanto trabalho; passam eles sem pensar nelas, vivem numa tranquilidade que os subsídios e a desigualdade de condição não perturbam; a terra lhes fornece os elementos necessários à vida, as madeiras e as ervas, o algodão, peles de animais para se cobrirem e se abrigarem", escreveu Frézier em Relation du voyage de la mer du Sud aux côtes du Chily et du Perou. Fait pendant les années 1712, 1713, & 1714, publicado na França, em 1716.
A população era pequena e somente em meados do século XVIII, Portugal começou a se preocupar com esse trecho da costa e ocupá-lo militarmente, com fortes e povoamento. A partir de 1748, começaram a chegar os imigrantes açorianos, que se dedicaram à agricultura e à indústria manufatureira de algodão e linho. Também nessa época, a pesca da baleia se desenvolveu ali, fornecendo óleo que foi comercializado pela coroa portuguesa.
A partir daí, a população da vila do Desterro se desenvolveu e o lugar se tornou mais atraente para os viajantes. "Navios que pretendem navegar por Cabo Horn, fazem bem em aportar nesta ilha, e não no Rio de Janeiro; as provisões são mais baratas; desfruta-se de um clima muito melhor; e, acima de tudo, tem a vantagem de ser mais próxima do Cabo Horn. O melhor café cresce aqui em abundância, sendo que todo habitante desta ilha tem a sua plantação perto de sua morada; mas o comércio, ainda que proibido, não é digno de consideração, pois poucos navios aqui chegam", escreveu o navegador Otto Von Kotzebue (1787-1846), em A voyage of Discovery, in to the South Sea and Beering's Straits, for the purpose of Exploring a North-East Passage, undertaken in the years 1815-1818, publicado na Inglaterra, em 1821.
O artista inglês Charles Landseer (1799-1879) visitou Desterro no início de 1826, quando já era uma cidade. Seus desenhos (acima e abaixo) mostram como continuava com ares de vila pacata, ainda dominada pela natureza.