Nascido em Berlim, o comerciante alemão Karl Wilhelm von Theremin (1784-1852), depois de viver na Rússia e na cidade belga de Antuérpia, veio ao Brasil, em 1817, em busca de um novo mercado para seus negócios. Permaneceu no Rio de Janeiro e arredores durante um ano estudando as possibilidades no comércio de café e voltou para a Europa. Como já havia trabalhado como representante consular, pediu ao rei Frederico Guilherme da Prússia (1797-1888) para ser cônsul no Rio de Janeiro. Somente em 1820, quando seu pedido foi atendido, ele voltou ao Brasil, desta vez com a família, e instalou seu escritório comercial e o consulado em um mesmo endereço na rua Direita, no centro do Rio de Janeiro. Theremin se integrou totalmente à sociedade brasileira e ocupou o cargo no consulado até 1835, quando foi substituído por seu filho, Leon. Foi presidente da Sociedade Beneficente Filantrópica Suíça, da Comunidade Evangélica Germânica e membro da comissão encarregada da reconstrução da Praça do Comércio. Morou durante muitos anos em um casarão na Glória e depois em outro, no Flamengo.
Filho de um joalheiro famoso, o comerciante sempre gostou das artes plásticas e durante sua estada no Brasil fez diversos desenhos e aquarelas. Depois de voltar para a Alemanha, publicou, em 1835, o álbum Saudades do Rio de Janeiro, com seis gravuras desenhadas por ele e litografadas pelo gravador W. Loeillot. São dessa edição, dedicada ao imperador D. Pedro II (1825-1891), as gravuras deste portal, que pertencem ao acervo do Instituto Itaú Cultural.
Em todas as gravuras de Theremin, prédios e locais públicos da cidade são representados junto com as figuras humanas que compõem essas paisagens. Na gravura acima, em primeiro plano, debruçado na mureta que dá para a baía, um homem lê um jornal. Mais à frente, homens e possíveis pescadores estão em barcos e somente ao fundo está a igreja da Glória. A mesma preocupação em retratar os habitantes da cidade pode ser observada na gravura abaixo, onde três quitandeiras se reúnem, ao lado de soldados, dois escravizados carregam uma liteira de onde sai uma mulher bem-vestida e um homem de fraque está parado, todos na entrada do passeio público.
Na gravura do aqueduto, uma mulher negra conversa pela janela com uma branca que está dentro da casa, enquanto dois negros conversam e fumam. Diante do palácio, soldados, homens brancos, mulheres e escravizados transitam pela paisagem, como se a gravura fosse um instantâneo daquele lugar. O mesmo se repete na gravura que retrata o Teatro Imperial. As construções da cidade, desenhadas com perfeição e detalhes, são como um pretexto para mostrar a vida da população.
No chafariz do Campo de Santana (abaixo), Theremin coloca em primeiro plano os frequentadores do lugar: as lavadeiras e os homens e mulheres encarregados de transportar água para toda a população da cidade. O álbum que ele publicou na Alemanha com apenas duzentos exemplares teve mais tarde duas edições, uma da Biblioteca Nacional, em 1949, em preto e branco, com prefácio do escritor maranhense Josué Montello (1917-2006), que era então diretor da instituição, e outra, em cores, da Companhia Editora Nacional, em 1957, com prefácio do historiador e crítico de arte Gilberto Ferrez (1908-2000).