Os primeiros hospitais construídos no Brasil, a exemplo dos que havia em Portugal e em outros países da Europa, eram ligados à igreja católica, financiados por irmandades, doações e algum dinheiro público, não muito diferente de como funcionam alguns hospitais filantrópicos até hoje. Essas instituições eram criadas para atender os necessitados, mas sempre dentro de um grupo definido por afinidades religiosas, políticas ou raciais.
O primeiro hospital em solo brasileiro foi a Santa Casa de Misericórdia de Olinda, inaugurada em 1540 e saqueada e incendiada, em 1630, pelos holandeses que invadiram o Nordeste. O segundo foi a Santa Casa de Misericórdia de Santos, fundada em 1543 por Brás Cubas (1507-1592) e administrada pelos jesuítas que atuavam como médicos, enfermeiros e o que mais precisasse. Esses hospitais atendiam pobres, órfãos e necessitados de todo tipo, sendo mais focados no acolhimento do que na cura. Também nesses moldes foi criada a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, em data incerta, mas ainda no século XVI.
Na gravura acima, do pintor holandês Pieter Godfried Bertichen (1796-1856), publicada em 1856, é possível ver o hospital em pleno funcionamento, na praia de Santa Luzia, mesmo local em que funciona até hoje, mas já longe do mar devido ao aterro do Morro do Castelo no início do século passado. Esses hospitais tinham como missão socorrer os pobres das cidades, mas muitas vezes a população negra não era contemplada. Quando escravizados, o custo da assistência médica deveria ser arcado pelo senhor de escravo. "Pouco se sabe acerca da presença de escravizados no hospital da Misericórdia do Rio de Janeiro e da proporção em relação aos brancos, uma vez que a documentação relativa à entrada e saída dos pacientes e seus respectivos documentos clínicos não foi preservada pela instituição. (...) Tal cenário mudou vertiginosamente com o processo de abolição da escravatura, por meio do qual a presença de não brancos cresceu bastante e, em alguns casos, alterou completamente a proporção entre brancos e não brancos, entendidos como as várias designações de pardos e pretos", escrevem as historiadoras Gisele Sanglard e Jeanine R. Claper no artigo "Pretos e pardos nas instituições de assistência à saúde no Rio de Janeiro (1850-1919): um estudo sobre o louco-pobre". (In: Tempo, Niterói, vol. 27, nº 2, p 445-466, maio-ago 2021.)
É também de Bertichen a gravura (acima) que mostra o Hospício de Pedro II, na praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Criado em 1841 e inaugurado em 1852, foi o primeiro hospital psiquiátrico do Brasil e surgiu para separar os alienados dos outros enfermos que antes conviviam na Santa Casa de Misericórdia. No século XIX, a assistência à saúde se tornava mais médica, ou científica, e menos assistencialista.
Os grupos de imigrantes também se organizavam em irmandades que criavam seus próprios hospitais, como o Hospital Português do Recife, inaugurado em 1855 e que deu origem às hoje conhecidas beneficências portuguesas. A gravura abaixo, de 1863, do pintor suíço Luis Schlappriz, mostra uma comemoração de aniversário do hospital, que até hoje é um dos mais importantes do Nordeste.
Como não poderia deixar de ser, os militares também criaram seus próprios hospitais, a partir do século XVIII. Com as guerras pela delimitação de fronteiras, disputas territoriais e os novos armamentos que começavam a surgir, como os fuzis, a necessidade de atender à saúde dos soldados se tornou urgente. Abaixo, o desenho de Joaquim José Codina (séc. XVIII-s.l.1790) reproduz a fachada do Hospital Real Militar de Belém do Pará, criado no final do século XVIII.
Às custas do governo brasileiro estavam apenas os hospitais que cuidavam de doenças infectocontagiosas, como varíola, febre amarela, cólera e tifo, bastante comuns por aqui. Para atendê-las, o imperador D. Pedro II criou o Hospital Marítimo de Santa Isabel Jurujuba, em 1856, em Niterói, onde os navios que chegavam ao Rio de Janeiro deviam ficar em quarentena caso houvesse doentes a bordo. Essa instituição, que hoje está desativada, também funcionou como uma espécie de hospital militar atendendo os feridos da Guerra do Paraguai (1864-1870).
Entre as doenças contagiosas mais temidas, estava a hanseníase (doença de Lázaro) que desde cedo teve edificações próprias e mantidas pela coroa. Por sua localização, na colina debruçada no mar, o Lazareto de São Cristóvão, estabelecido na construção que foi até meados do século XVIII uma casa de recreio dos jesuítas, chamou a atenção de viajantes que estiveram no Rio de Janeiro. O desenho abaixo é do inglês Charles Landseer (1799-1879) e a gravura, de seu conterrâneo Henry Chamberlain (1796-1843). Hoje, o edifício permanece, próximo à rodoviária do Rio e ao gasômetro, mas as praias que aparecem nas imagens não existem mais, foram aterradas.