Pintor, litógrafo e professor, Agostinho da Motta integrou uma das primeiras gerações de artistas formados pela Academia Imperial de Belas Artes. Nascido no Rio de Janeiro, começou seus estudos na Aiba, em 1837, com 13 anos de idade. Foi aluno de Manuel de Araújo Porto-Alegre em pintura histórica e de Félix-Émile Taunay e August Muller na pintura de paisagem. Recebeu um prêmio de viagem ao exterior, a maior premiação oferecida pela Academia, e viajou para Roma, onde foi aluno de Léon-François Benouville. Quando voltou ao Brasil, tornou-se professor de desenho e de pintura de paisagem, trabalhou na Academia e no Liceu de Artes e Ofícios. Foi também um dos fundadores da Sociedade Propagadora das Belas Artes do Rio de Janeiro, instituição responsável pela edição de O Brazil Artístico, único periódico sobre o assunto na época. Em 1872, foi condecorado com o título de Oficial da Ordem da Rosa, e tinha o casal d. Pedro II e imperatriz Teresa Cristina como grandes entusiastas e mecenas de seu trabalho.

Natureza-morta com flores (atribuído)

Agostinho da Motta é considerado um dos primeiros pintores brasileiros do século XIX a se dedicar à pintura de natureza-morta e de paisagem, tema pelo qual ficou mais conhecido. Foi por meio desses gêneros artísticos tradicionais que ele revelou um novo olhar sobre a criação artística nacional, buscando afirmar uma arte genuinamente brasileira.

Baseando-se nas convenções já estabelecidas para a representação da natureza-morta no contexto da arte europeia, o pintor produziu composições que se valem da diversidade e de um certo exotismo característico das flores e frutas brasileiras.

Natureza-morta com frutas (atribuído)

Em Natureza-morta Com Frutas, jaca, goiaba, fruta-do-conde, pinha, pitanga, carambola e abacate aparecem com suas camadas, cascas, peles e cores ressaltadas por meio da habilidosa técnica do artista e sugerem uma variedade de sabores, odores e texturas. Apesar de dialogar com naturezas-mortas de viajantes europeus como Jean-Baptiste Debret e Albert Eckhout, que mostravam as riquezas de um território a ser explorado, Motta usou o gênero artístico para revelar a natureza tropical brasileira de uma forma perene. “Na tradição da pintura de natureza-morta, a alusão a passagem do tempo é sempre presente: nas estações que passam, na flor que murcha e perde suas pétalas aos poucos, na mancha, no furo do verme na pele da fruta mais linda, a beleza da vida não pode ser separada da presença da morte. Mas, nas pinturas de Agostinho José da Motta, na vida das cores e das frutas, em suas cores dissonantes, quentes e vivas, eclode a inculta e envolvente força da natureza brasileira, que vira promessa de um verão sem fim”, analisou o professor e historiador da arte Luciano Migliaccio no livro Coleção Brasiliana - Fundação Estudar. 

A pintura traz ainda um ramo de café que, segundo a historiadora Letícia Squeff, tem um papel simbólico que ultrapassa a exaltação da riqueza brasileira e ajuda a reforçar a cultura visual do Império. “A presença do café permite ver com clareza as intenções do artista ao dialogar com naturezas-mortas pintadas por viajantes. O café era um produto importante na economia do Império. Mas não é, talvez, a alusão ao seu valor comercial o que buscava o artista. Muito pelo contrário. Ao associá-lo a outras frutas tropicais, Motta talvez quisesse buscar outros significados para sua obra. Vale lembrar, sobre isso, que o café estava entre os símbolos nacionais desde a Independência, quando fora colocado, entrelaçado ao ramo de tabaco, na bandeira do Império, tal como desenhada por Debret. Estava presente, também, em brasões dos grandes do Império, e em outros símbolos nacionais”, explica a historiadora no artigo A natureza-morta eloquente de Agostinho José da Motta, publicado na Revista Teresa.